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Licenciatura em pedagogia Vivência interdisciplinar

Aldeni Araújo, Aline Bastos, Cleide do Socorro e Cristiane Silva Pereira

Uma vivência educacional inusitada surgiu com a proposta interdisciplinar entre duas disciplinas do sétimo período de Pedagogia, turma 2014.1, da Universidade Federal do Amapá/Campus Binacional/Oiapoque/AP. As duas disciplinas intituladas Concepção Freiriana de Educação e Educação, Trabalho e Movimentos Sociais resolveram conversar e o resultado foi muito interessante. A realização de um trabalho prático de alfabetização utilizando o método de Paulo Freire aliado a um movimento social intitulado Alfabetiza Oiapoque foi a proposta inicial das duas professoras. Em busca de parceria a gerente Ana Luísa Oliveira e a pedagoga Liliam Mesquita, ambas do SESC, em convênio com Prefeitura Municipal de Oiapoque /Secretaria Municipal de Educação, aceitaram o desafio de receber 34 acadêmicas para praticar com a turma da primeira etapa da Educação de Jovens e Adultos, o método de alfabetização Paulo Freire.

A professora da turma, Valciene Garcia, absorveu a ideia e incorporou a prática, duas vezes por semana, juntávamos acadêmicos de Pedagogia, alunos da Educação de Jovens e Adultos e professoras. Nenhum dos envolvidos no processo teve, a princípio, noção da dimensão e do entrosamento entre os alunos, acadêmicos e professores. Vivenciamos momentos de puro deleite. Momentos de muita emoção e crescimento humano, em todos os sentidos. E no “Círculo de Cultura”, proposto por Paulo Freire, que substitui a ideia de “sala de aula”, porque todos estão à volta de uma equipe de trabalho que tem um animador de debates, um companheiro alfabetizado, que participa de uma atividade comum, onde todos ensinam e todos aprendem. Trata-se de um modo diferenciado de saber ler e escrever, o Círculo de Leitura produz uma maneira solidária e coletiva de pensar o cotidiano. Juntos, de palavra em palavra, constroem a própria história – homens, sujeitos, seres de história – na concepção freiriana.

Iniciamos o Círculo de Cultura com um tema em evidência no município do Oiapoque: o lixão a céu aberto, causador de muitos problemas para os munícipes. As palavras geradoras foram escritas a cada encontro, com entusiasmo. O diálogo era constante, entre os participantes do Círculo de Cultura. Muita informação e aprendizado. Os alunos da EJA, foram acompanhados, individualmente, por acadêmicos, sentados lado a lado, que orientavam a escrita e a leitura.

 Após várias semanas de encontro uma carta foi escrita pelos alunos para o secretário municipal de meio ambiente, Oscar Gislael. Que prontamente aceitou o convite e veio até o SESC para receber a carta e conversar com o grupo de alunos e professores. A conversa foi esclarecedora, os alunos demonstraram domínio do tema. Perguntaram, questionaram e propuseram ações para a solucionar o grave problema do lixo em Oiapoque.

 A conversa entusiasmada gerou a possibilidade de novos encontros para se pensar ações conjuntas, de proteção ambiental entre sociedade civil, gestão municipal, Unifap e SESC.

Entrega da carta escrita pelos alunos da EJA ao Secretário Municipal de Meio Ambiente.

Entrega da carta escrita pelos alunos da EJA ao Secretário Municipal de Meio Ambiente.

DEPOIMENTOS DOS DISCENTES 

 “No primeiro encontro os depoimentos sobre as trajetórias de vida, as dificuldades e a superação em voltar para a sala de aula foram emocionantes. Os alunos compartilharam os motivos pelos quais voltaram a estudar, mesmo com certa timidez. Contudo, no decorrer dos nossos encontros, todos já se acostumaram e gostavam de nossa presença em sala de aula.

 Os momentos vividos foram de suma importância para contribuir no entendimento da aplicabilidade do método de alfabetização de Paulo Freire, onde ficou visível a prática educativa e a mediação da aprendizagem, fator necessário para o método dialógico aplicado em sala de aula.

A aproximação afetiva com esses alunos no ambiente escolar trouxe em questão a discussão, a análise e a reflexão da teoria e prática, tornando a experiência ainda mais enriquecedora e cheia de novos significados para futuros profissionais da Educação. ”

Aldeni Araújo, Aline Bastos, Cleide do Socorro e Cristiane Silva Pereira

 “A vivência com o método de alfabetização de Paulo Freire, no SESC, nos proporcionou momentos prazerosos, uma experiência gratificante. Os relatos dos alunos, as dificuldades enfrentadas para seguir nos estudos, o cansaço do trabalho, os problemas de visão, a falta de tempo, a família, o choque de gerações, os problemas de saúde, enfim toda trajetória de vida desses alunos da EJA e sua visão de educação, de cidadania e de mundo. Depoimentos espontâneos e cheios de emoção que integram os conhecimentos adquiridos ao longo da vida, o contexto sócio econômico e político do país.

Nosso interesse é percebermos quais aspectos da vida escolar destes alunos os levaram a não estudarem quando crianças; por que motivo buscam o ensino agora? Por que não frequentaram a escola quando crianças?

Conversamos com um aluno que é morador deste município há mais de trinta anos. É paraense, sessenta e sete anos, casado, pai, avô…. Sente-se muito feliz por ser aluno do SESC e de pertencer a sua turma. Gosta muito da professora, Valeiene.  Relatou que se acostumou a vir para a escola, todos os dias, apesar do cansaço do trabalho diário.  É proprietário de um ponto de venda de açaí e outros gêneros alimentícios. Quando não tem aula, fica em casa sentindo falta de algo, faltam os colegas, a professora e as lições.

Ele confessa que não ia a escola quando criança porque trabalhava com seu pai, na roça, no interior do Pará. Sua vida sempre foi de muita luta, criança com responsabilidade de gente adulta trabalhando na roça.

Há pouco tempo, um grupo de professores e funcionários do SESC, foram no seu bairro convidar e matricular pessoas adultas e jovens para estudarem no período da noite. Ele sentiu o desejo, conversou com sua esposa e resolveu encarar o desafio. A escola não fica longe de sua casa, basta atravessar a BR 156. Ele tem apoio da família, e, hoje sente-se realizando um sonho: de aprender a ler e escrever. Relata que no seu comércio, ficava muito triste por não conseguir ler os nomes que estavam escritos nas embalagens dos produtos. Sabia o que era, mas tinha a dificuldade da leitura. Há pouco tempo ficou emocionado quando recebeu um bilhete com nomes de alguns produtos, uma criança trouxe para comprar. Daí ele conseguiu ler o que a mãe do garoto queria comprar. Atendeu com alegria. Finalmente, ele realizou seu sonho: aprendeu a ler. Ele é grato a sua professora pelo aprendizado da leitura e da escrita.

Conhecer a história deste aluno e de outros que integram a turma da 1ª etapa da EJA/SESC, foi uma experiência muito gratificante e interessante, pois valorizou a nossa prática pedagógica, uma vivência que nos permitiu conhecer histórias de vida de brasileiros e brasileiras, agora valorizados como cidadãos em fase de alfabetização. ”

Anderson Forte, Benervaldo Marques, Elizete Pinheiro e Romenson Vilhena.

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“O foco principal desta experiência foi aprender a trabalhar com o Método de alfabetização de Paulo Freire. Os acadêmicos, após leituras, pesquisas, debates e reflexões sobre o trabalho do autor, tiveram a oportunidade de aliar os conhecimentos teóricos a vivência prática do método de alfabetização, sob a orientação das professoras.

No dia 06 de junho/2017, realizou-se o primeiro encontro entre os acadêmicos de Pedagogia, os alunos da EJA e as professoras. O encontro ocorreu de maneira acolhedora, amorosa e divertida. As professoras explicaram a proposta do trabalho interdisciplinar. A necessidade de os acadêmicos praticarem o método de alfabetização Paulo Freire. E agradeceram a colaboração e confiança da turma em estudar através do método de Paulo Freire. Os acadêmicos se apresentaram, contaram um pouco da sua história de vida, alguns provenientes da modalidade EJA e atualmente acadêmicos da UNIFAP. Os alunos da EJA, com sinceridade e espontaneidade, contaram suas vidas e suas dificuldades, mas com otimismo, o que nos proporcionou momentos emocionantes, histórias de vida belíssimas e experiências sensacionais.

Daí os demais encontros foram realizados com o que Paulo freire denominava de “Círculo de Cultura”. Ficou decidido que iriamos trabalhar com a palavra “meio ambiente”, neste dia cada acadêmico ficou responsável por acompanhar/auxiliar um aluno nas tarefas que seriam aplicadas.

 Essa experiência nos proporcionou uma gama de conhecimentos acerca do método de alfabetização freiriano, fundamentais para nós enquanto futuros professores. Constatamos que não basta termos apenas conhecimentos teóricos, mas é essencial que sejamos mais humanos e conscientes de nossa influência na vida de cada aluno, assumindo a real função do educador que é ser mediador da aprendizagem, trabalhando sempre de forma afetiva e dialógica, valorizando os conhecimentos empíricos e as especificidades de cada educando.”

Francisco de Lima Pereira, Simião Mendes Carneiro e Bhaiam Andrey dos Santos Alves.

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“Pensar em Educação de Jovens e Adultos (EJA) é pensar em Paulo Freire e em sua amorosidade com a educação. Quando as professoras nos comunicaram que iríamos fazer uma aproximação com uma turma da EJA, e aprender a trabalhar com o método de alfabetização de Paulo Freire, ficamos muito entusiasmados, pois seria uma experiência nova, e, também, uma troca de conhecimentos, integrada a uma construção de conhecimentos. Após a apresentação perante a turma de alunos, pudemos refletir sobre as práticas docentes, e diagnosticar como a educação é uma grande ferramenta para mudar o mundo e a realidade na qual estamos inseridos.

Aprendemos que nunca é tarde para estudar, e seguir em busca dos sonhos, e a cada dia um desafio é enfrentado. Todos foram muito receptivos, ficaram felizes com a presença dos acadêmicos. No decorrer das aulas auxiliamos nas dificuldades, foi uma troca de experiência importante. Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido diz:  não há saber mais nem menos; há saberes diferentes.

Nesse sentido as contribuições de Paulo Freire, foram de grande importância para a educação, em especial para a Educação de Jovens e Adultos. O seu método, proporcionou aos alunos trazer suas experiências, seus valores, sua cultura para dentro da sala de aula, cada um no seu ritmo de aprendizagem, dando mais significado ao que se aprende.”

Gizelda Ribeiro Evangelista, Daniele S. Guimarães, Flaviany da Silva Lima, Zenita da Paixão.

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“O grande educador Paulo Freire desenvolveu um método de ensino que proporciona aos indivíduos, aprender a partir de seu cotidiano. A refletir sobre sua vida e a ser o transformador de sua realidade a partir de uma ‘educação libertadora’. O educador tornou-se um ícone de luta pela libertação das classes oprimidas, pois compreendia que a dominação e a opressão acontecem devida à educação bancária e pela falta de uma educação crítica e libertadora.

Para desenvolver o método Paulo Freire os acadêmicos orientados pelas professoras das disciplinas Doralice e Rita, que realizaram aulas teóricas e simulação passo a passo das etapas do método para garantir sua eficácia.

O primeiro encontro com a turma foi destinado a apresentação entre a turma de pedagogia e os alunos. O momento foi enriquecedor, pois foi possível perceber uma grande emoção nos relatos de vida, de superação e motivação. Na apresentação dos alunos não foi diferente a emoção e receptividade. Seus relatos de vida, trabalho e busca por aprendizagem foram além das expectativas, pois diferente do que lemos em teorias, os relatos foram com propriedade do que se quer, pessoas que realmente buscam o conhecimento.  Talvez seja essa força de vontade, presente, a grande diferença na educação de jovens adultos, a busca pela superação. Diferente da imposta, como percebemos em crianças que frequentam escolas por obrigação, sem motivação. Percebemos isto nos estágios, projetos e planos de ação nas escolas.

Os encontros seguintes foram todos práticos, onde acadêmicos auxiliavam os educandos ouvindo, instigando-os a refletir, a falar para que fossem ouvidos.

As palavras chaves para o trabalho com os alunos da EJA foram “Ética e Respeito”, nas orientações as professoras refletiram sobre os conceitos de Paulo Freire: para ensinar é preciso que o educador tenha ética, a ética é uma característica do homem ou da mulher, assim, “Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão”.

Os encontros foram acontecendo e os laços de afetividade foram se estreitando, mais à vontade os alunos passaram a ser espontâneos e participativos.  Davam respostas e sugestões sem a necessidade do acadêmico auxiliar. Segundo Freire quando falamos e queremos que os educandos repitam nossas palavras estamos “imobilizando” o conhecimento, apenas transferindo saberes numa “espécie de narcisismo oral”. Nesses termos, é fundamental que o educador saiba escutar, refletir a fala do educando, pois para Freire (1996, p. 71) …”é escutando que aprendemos a falar com eles”.

Os alunos mostraram que traziam conhecimentos, e não houve nenhuma dificuldade ou desinteresse quanto ao método de alfabetização.

Assim, o curto, porém, enriquecedor, período de aplicação do método Paulo Freire proporcionou novas perspectivas, novos conhecimentos. E, o principal, a vivência real do contexto da educação de jovens e adultos, relacionando a teoria e a prática. Como futuros educadores participar de tais práticas pedagógicas possibilitam a apropriação da didática, essencial para o exercício da pedagogia.”

Josilene Benedito dos Santos

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“Antes de adentrarmos o ambiente da Educação de Jovens e Adultos, fomos preparadas com conteúdo teórico, tivemos aulas teóricas sobre o Método de Alfabetização de Paulo Freire. Em sala debatemos, praticamos e em seguida, com todas essas informações, iniciamos o primeiro encontro com os alunos da EJA, fomos bem recebidos e a proposta foi bem-vinda na Escola SESC.

Nosso primeiro contato foi com as professoras explanando sobre o método, a importância e nosso objetivo geral: praticar o método de alfabetização. Aprender a alfabetizar. Em seguida começaram as nossas apresentações, cada acadêmico se apresentou e falou sobre o propósito de nossa aproximação. Em seguida foi a vez dos alunos se apresentarem, apesar da timidez, nos contemplaram com suas histórias de vida, falaram sobre as dificuldades de estudar, seus objetivos e o que os levou a voltar a estudar, depois de tanto tempo fora de uma sala de aula.  Ouvindo cada relato, em particular me emocionei, e percebi, outros acadêmicos e professoras, também sensibilizados, percebendo a força de vontade e coragem daquelas pessoas ali presentes. O esforço para ir à escola depois de uma jornada de trabalho de um dia inteiro. Ouvindo os expressivos e emocionantes depoimentos e vendo o brilho no olhar deles, a esperança emanada nos semblantes, fez esse momento gratificante.

Começamos com uma proposta de algo que eles estão insatisfeitos que acontece no município de Oiapoque, o tema foi “O LIXÃO DE OIAPOQUE”, os alunos relataram, com propriedade, os prejuízos do lixão a céu aberto. Durante as aulas foram escrevendo, com a ajuda dos acadêmicos, palavras pertinentes ao tema, as palavras geradoras, segundo Paulo Freire.

Foi combinado que durante os nossos encontros, eles escreveriam uma carta, destinada ao Secretário Municipal de Meio Ambiente, para falar de sua indignação e da necessidade de transformar o modo de cuidar do lixo. Eles adoraram a proposta e a cada encontro surgiam novas palavras, ideias, reclamações e curiosidades a respeito da temática. O grupo cresceu muito com as informações e pesquisas realizadas acerca do descarte do lixo. Nós, acadêmicos, em conjunto, com as professoras, criaremos um Blog para divulgar o trabalho interdisciplinar realizado no SESC. Enfim, essa experiência foi realmente gratificante, nós acadêmicos, sobretudo, aprendemos com essas pessoas maravilhosas e com suas histórias de vida, que entre tantos altos e baixos, não desanimam, estão aí, em busca de um futuro, no mínimo, mais digno.

A carta foi entregue a dois gestores municipais, que a convite do grupo, vieram ao SESC: os secretários municipais de Meio Ambiente, Oscar Gislael, e o Antônio Lima da Costa, da Agricultura.

A conversa entusiasmada gerou a possibilidade de novos encontros para se pensar ações conjuntas, de proteção ao meio ambiente, envolvendo os alunos e professores da EJA/SESC, acadêmicos e professoras da Unifap e os gestores municipais.

A vocês estudantes da EJA, o meu muito obrigada, por nos proporcionar momentos únicos, intensos e verdadeiros. PARABÉNS!!!”

Lorena Nádia Maciel

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“À princípio, gostaríamos de agradecer as professoras pelo compromisso e determinação, ao firmar a parceria com o SESC, e nos proporcionar a oportunidade e o privilégio de termos essa vivência com uma turma da EJA. Foi grande privilégio a oportunidade de ter essa experiência em uma turma de 1ª etapa, sobretudo por ser a etapa de maiores desafios de ensino e aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos. Não podemos deixar de mencionar a disponibilidade da professora Valeiene, responsável pela turma, que aderiu e somou conosco, em todos os momentos. Uma parceira responsável por momentos ímpares em nosso aprendizado.

O método de Paulo Freire é extraordinário, pois nos permite trabalhar a alfabetização de Jovens e Adultos, inserindo os temas de cotidiano do aluno, e, também, possibilita trabalhar os temas transversais como ambiente, política, violência nas escolas, dentre outros. É próprio da Pedagogia do Oprimido se trabalhar a conscientização.

Outra característica do método é a dimensão humana, pois esta questão é genuína da metodologia de Paulo Freire. Fomos orientados, por nossas professoras, para termos o cuidado de não causar nenhum constrangimento aos alunos, tratá-los com respeito e sem julgamentos culturais ou morais. Pudemos perceber a sabedoria advindas de suas experiências de vida, e nos divertimos com os relatos, espontâneos e engraçados.

Observamos um fato importante para nossa futura prática docente: a metodologia para escrever no quadro. O modelo da letra utilizado foi a letra bastão, em tamanho maior do que se utiliza para alfabetizar as crianças. Perfeita para a idade dos alunos, pois adultos tem uma tendência maior para redução da visão. Percebemos que vários alunos têm problemas de visão, mas alguns não tem condições financeiras para consultar um oftalmologista, nem tampouco para comprar os óculos. A saúde pública não oferece esse serviço em Oiapoque. Não temos oftalmologista.

Utilizamos como tema, no encontro inicial, a palavra “lixo”. Isto porque em nossa cidade o lixo é tratado de maneira inadequada, e isto, causa muitos problemas, tanto para a população, quanto para o meio ambiente: problemas de saúde e degradação do ambiente. O objetivo foi trabalharmos não somente a conscientização da população para os impactos causados pela inadequação do tratamento do lixo, mas a conscientização social.

É uma característica do método Paulo Freire, “Alfabetizar, conscientizar e humanizar”.  Estas categorias, devidamente trabalhadas, proporcionarão ao cidadão, além da alfabetização e uma perspectiva de vida melhor, um olhar mais crítico, reflexivo, consciente de seus direitos, e, essa visão cidadã contribuirá para o surgimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

Segundo Carlos Brandão, o método é instrumento de preparação de pessoas para uma tarefa coletiva de reconstrução nacional. Neste sentido, “preparar” e “reconstruir” requerem o cuidado de humanizar. Neste sentido, quando o aluno da EJA, adentra o espaço escolar, traz consigo emoções advindas de sua subjetividade. Aí entra em cena, o professor extrovertido, dinâmico, com didática e reflexão apropriadas. Aquele professor que estimula o aluno a estudar, recebendo-os num ambiente acolhedor. Sobretudo, para Paulo Freire: educar é impregnar de sentidos, o que fazemos a todo instante.”

Alzira Vieira Sobrinho e Marleide Andrade

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“Os nossos encontros eram assim, ao chegarmos cada acadêmico sentava-se com um aluno para auxiliá-lo. As professoras estimulavam as conversas para surgir as palavras geradoras. De acordo com Carlos Brandão o método de alfabetização proposto por Freire é um trabalho coletivo, coparticipado, de construção de conhecimento da realidade local: o lugar imediato onde as pessoas vivem e serão alfabetizadas. Assim, que surgia a palavra geradora, a professora a escrevia na lousa, e, em seguida, apresentava-se as famílias silábicas.  E, a partir daí os alunos formavam outras palavras relacionadas, fazíamos o que Paulo Freire chamou de “Levantamento do universo vocabular”.

Enfim, vimos o quanto foi enriquecedora essa experiência, e percebemos que os alunos gostaram do método e da nossa presença, pois esperavam nossa chegada, terças-feiras e quintas-feiras, e, para nos enquanto acadêmicos e futuros profissionais da educação, a vivência foi de grande importância porque relacionamos teoria e prática, método esse que vale a pena levar para nossa vida profissional.”

Meggy Mariana Saraiva Vilela

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“Ao nos aproximarmos da turma da educação de jovens e adultos, no SESC, de Oiapoque, sentimos a real dimensão do ato de ensinar e dos cuidados que se deve ter, ao estar em sala de aula. Ensinar é um ato de amor ao próximo, porque não estamos somente para repassar conhecimentos aos alunos, mais também para absorver os conhecimentos advindos das experiências de vida, de cada um deles.

Estar com uma turma de adultos, e utilizar o método de alfabetização de Paulo Freire, além de um grande desafio, para nós acadêmicos, também nos proporciona a visão da educação contextualizada. Os elementos do cotidiano dos alunos, inserido em sala de aula, e sendo um importante recurso na alfabetização dos alunos. Esse método facilita compreensão do universo vivenciado pelos alunos e desperta o interesse dos mesmos, pois os temas são do cotidiano. Assim, o dialogo acontece de maneira espontânea, tornando a aula prazerosa.

A vivência no SESC/EJA nos engrandeceu, sobretudo com um olhar mais amoroso para a educação, para o ato de ensinar, como ensinar e aprender com os nossos alunos, portadores de seus próprios saberes. Como educadores aprendemos a valorizar o conhecimento empírico de nossos alunos. E aproveitar sua vivência cotidiano para tornar o aprendizado contextualizado.”

Sirlene Sousa Silva

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