Linguística Aplicada

A tradição indígena na aprendizagem da língua parkatêjê

Maria de Nazaré Moraes da Silva (UFPA)

Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira (UFPA)

A educação formal do Brasil, bem como o conhecimento em geral que perpassa a extensão de seu território, vem sofrendo transformações ao lado do movimento da história da sociedade que o habita. Com relação ao ensino em escola indígena, por exemplo, diversos paradigmas foram instituídos a fim de assegurar as línguas indígenas à posteridade. No entanto, até os dias de hoje, em grande parte dos estudos direcionados a esse fim há prioridade à modalidade escrita em detrimento do legado oralista dos povos que as falam. Por que o índio deve aprender a escrever na sua língua, cuja tradição é, principalmente, oral? Este trabalho instiga uma reflexão sobre a questão ora apresentada e defende um diálogo simétrico entre o paradigma de ensino da Escola Indígena Pẽmptykre Parkatêjê e a tradição dos alunos que a frequentam. Neste sentido, distingue índios mais velhos, ou da primeira geração, como atores imprescindíveis no processo de aprendizagem formal de uma língua tradicional. Postula, assim, que a herança oral dos povos indígenas pode se configurar em importante estratégia para o fortalecimento e a preservação desse patrimônio linguístico-cultural brasileiro. Diz respeito, mais especificamente, à aprendizagem do parkatêjê, língua falada por índios de mesma denominação que habitam a Reserva Indígena Mãe Maria, situada no município Bom Jesus do Tocantins, em Marabá, a sudeste do Pará. Para isso, reúne dados sobre sociedades de tradição oral, ou predominantemente oral, com o apoio de Calvet (2011), Haveloc (1995) e Vansina (2010); sintetiza informações acerca da história da educação formal em solo brasileiro, com contribuições de Câmara Júnior (1979), Grupioni (2006), Maher (2006), Monserrat (2006), Rodrigues (1986; 2005), Seki (1999); e discorre sobre os índios Parkatêjê, cuja situação sociolinguística demanda atenção de pesquisadores de áreas como Educação e Linguística, entre outras, com base em Araújo (1977; 2008), Ferraz (1984; 2001) e Ferreira (2003). Trata-se de uma pesquisa etnográfica conforme defende Severino (2007). Configura-se, consoante o mesmo autor, como bibliográfica, pois se utiliza de teorias registradas de vários autores, e se vincula à Linguística Aplicada, um campo transdisciplinar que se pauta no movimento do conhecimento e propõe a conjugação entre saberes (MOITA LOPES, 2006).

Palavras-chave: Tradição indígena. Ensino formal. Aprendizagem da língua Parkatêjê.

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Seleção e organização de conteúdos linguísticos usados para o ensino de língua indígena Apurinã, como uma forma de auxiliar no processo de revitalização e manutenção da língua

Bianca Castro Rodrigues (UFPA)

Prof. Dr. Sidney Facundes (UFPA)

Este trabalho tem por objetivo apresentar o processo de seleção e organização de conteúdos necessários para o ensino de Apurinã nas escolas indígenas multisseriadas. A metodologia, aplicada à segunda língua, tendo a língua Apurinã como identitária do povo que a classifica como característica de sua etnia, foi divida em três etapas: A primeira consistiu no levantamentos de toda a bibliografia referente a língua Apurinã, análise dos materiais didáticos existentes e em processo de elaboração, artigos, dissertações e tese. A segunda foi a aplicação de vinte e seis questionários à professores Apurinã de diferentes localidades, em abril de 2015, durante a realização de uma oficina de ensino da língua em Lábrea, Amazonas, ministrada pelo Prof. Dr. Sidney Facundes em parceria com suas alunas de mestrado da Universidade Federal do Pará.  Vinte e um questionários foram coletados, respondidos por professores representantes de dezoito comunidades indígenas presentes na oficina (Boa esperança, Capurana, Copaíba, Cujubin, Curriã, Ilha verde, Irmã Creusa, Japim, Pedreira do Amazonas, São Bastião, São Domingos, São José, Sepatiní, Terra Nova, Terrinha, Tucumã, Tumiã e Vila nova). A terceira etapa consistiu na seleção de alguns dos professores, que realizaram a segunda etapa, para uma entrevista na qual foram trabalhadas questões apontadas por eles nos questionários, que serão de extrema importância para o andamento da pesquisa. O trabalho desenvolvido primeiramente por Facundes, 2000 e posteriormente por Duarte, 2009, encabeçou uma serie de trabalhos que tem como intuito o estudo da língua em perigo de extinção, assim como muitas outras, tal qual aponta Moore, Galucio e Gabas, 2008 e Rodrigues, 2006. Os mais variados estudos em língua indígena visam auxiliar no processo de revitalização e manutenção da língua, assim como esse trabalho, por meio do ensino da mesma em sala de aula. Este trabalho é parte integrante de uma pesquisa de mestrado em andamento.

Palavra- chave: Conteúdos. Revitalização. Apurinã.

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ATITUDES LINGUISTICAS NA COMUNIDADE INDÍGENA KYIKATÊJÊ: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DE LÍNGUAS

Áustria Rodrigues Brito (UNIFESSPA/LALLI-UnB)

 

Partindo de uma perspectiva sociolingüística, nosso objetivo geral é estudar as atitudes sociolinguísticas no contexto da comunidade indígena Kyikatêjê, localizada no km 25 da BR 222, do município de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Pará, numa área de 62.4888,4516, descrevendo o modo como o povo Kiykatêjê se posiciona em relação às duas línguas em contato: o português e o kyikatêjê. A partir do resultado dessa primeira etapa, o nosso objetivo específico é apresentar à comunidade escolar proposições acerca do posicionamento lingüístico da comunidade que possam contribuir para a efetividade tanto do ensino das duas línguas. Para o nosso objetivo geral, conforme Tarallo (1986), partiremos da premissa sociolingüística de que as atitudes sociolingüísticas dos falantes são determinantes para o favorecimento do uso de uma ou outra língua conforme contextos bem definidos. Para chegar à sistematização dessas atitudes, utilizamos os questionários de Maher (2007). Foram eles que nos possibilitaram a coleta de dados que agora nos permitem entrever a atitude sociolingüística dos falantes da comunidade. Assim, entendendo que o ensino de línguas só será verdadeiramente significativo e efetivo para a comunidade se for dimensionado a partir de uma perspectiva interacional e contextual (Koch, 1992), apresentaremos à comunidade escolar local os nossos resultados, com o intuito de evocar medidas educativas quanto ao ensino de línguas que sejam mais congruentes com a realidade da comunidade e, com efeito, das aspirações desta.

PALAVRAS-CHAVE: Atitude sociolinguística. Povo Kyikatêjê. Subsídios para o ensino.

 

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PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E INTERCULTURALIDADE

 

Jonise Nunes Santos (UFAM)

Admilton de Freitas Chagas Filho (UFAM)

 

O trabalho apresenta a abordagem sobre a perspectiva teórico-metodológica utilizada nas disciplinas do Curso de Formação de Professores Indígenas da Faculdade de Educação/Universidade Federal do Amazonas para a implementação das orientações propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, no que diz respeito ao processo envolvido no ensino de língua, especificamente, na sequência didática que culmina na atividade de Análise Lingüística (GERALDI, 1984), termo utilizado “para denominar uma perspectiva de reflexão sobre o sistema lingüístico e sobre os usos da língua, com vistas ao tratamento escolar de fenômenos gramaticais, textuais, discursivos” e, no caso dos povos indígenas, dos conhecimentos tradicionais acumulados. Partindo desses pressupostos e do contexto linguístico do curso, delimitaremos a análise, no presente trabalho, às disicplinas de Língua Portuguesa, História, Pesquisa em Letras e Artes e em Ciências Humanas e Sociais, considerando a necessidade de apropriação de atividades centradas na perspectiva de análise línguistica, para que os temas sejam trabalhados na perspectiva intercultural, visando, ainda, apresentar sugestões de como efetivar, na prática, as opções teóricas assumidas pelo PCNs. As perspectivas teórico-metodológicas têm privilegiado os gêneros discursivos, que conforme Barbosa (2000), “permite incorporar elementos da ordem do social e do histórico […]; permite considerar a situação de produção de um dado discurso […]; abrange o conteúdo temático […], a construção composicional […] e seu estilo verbal […]”. Nesse sentido, “a apropriação de um determinado gênero passa, necessariamente, pela vinculação deste com seu contexto socio-histórico-cultural de circulação” (BARBOSA, 2000, p. 152). Ressalta-se que “não é possível tomar como unidades básicas do processo de ensino as que decorrem de uma análise de estratos, letras/fonemas, sílabas, palavras, sintagmas, frases que, descontextualizados” (PCNs, 1996, p. 23), são normalmente tomados como exemplos de estudo gramatical e pouco têm a ver com a competência discursiva. Além dessa perspectiva linguística, o desenvolvimento de atividades partindo do texto toma como ponto de partida conhecimentos tradicionais de cada povo, possibilitando a circulação dos saberes indígenas na escola, conforme direito assegurado, aproximando-se da interculturalidade. Dentro desse marco, a unidade básica do ensino, no caso o texto – tanto oral quanto escrito -, dá espaço às diferentes vozes que emergem não só na sala de aula, mas do conhecimento acumulado pelo povo indígena, representativas de realidades socio-históricas distintas e que, portanto, devem ser consideradas. A opção, ainda, por essa perspectiva de ensino e aprendizagem busca refletir sobre os padrões fechados do processo ensino-aprendizagem, que só permitem uma interpretação, logo, negam a variedade de leituras possíveis que se constroem na co-interação leitor-texto e o conhecimento indígena. Destaca-se que o espaço do Curso de Formação de Professores Indígenas caracteriza-se como momento para que o professor indígena reflita sobre sua prática pedagógica e sobre o atendimento às diretrizes para educação escolar indígena, mediante o planejamento de ações, que o desafia a considerar os conhecimentos dos alunos e do povo, que podem ser traduzidas em objetivos/ações do projeto educativo da escola. Dentro desse movimento metodológico, a discussão centra-se na reflexão textual, sem excluir as ações envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, considerando que a prática dos professores indígenas  ainda vem sendo pautada na reprodução de atividades outrora desenvolvida para/entre eles.

Palavras-chave: Análise Linguística. Processo ensino-aprendizagem. Interculturalidade.