Língua e Identidade II

ASPECTOS LINGUÍSTICOS E CULTURAIS DOS SISTEMAS DE PARENTESCO E ONOMÁSTICO DO POVO PARKATÊJÊ

Tereza Tayná Coutinho Lopes (UFPA)

Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira (UFPA)

Este trabalho tem por objetivo apresentar questões linguísticas e culturais relacionadas aos sistemas de parentesco e onomástico do povo Parkatêjê, também conhecido na literatura especializada como Gavião do Pará. Atualmente, o referido povo vive em aldeias na Reserva Indígena Mãe Maria (RIMM), às proximidades do município de Marabá. A língua Parkatêjê, denominada do mesmo modo que sua comunidade, filia-se ao Complexo Dialetal Timbira, tronco linguístico Macro-Jê e, tal como é comum aos povos Timbira, exibe elaborados sistemas de nominação e parentesco. Aspectos referentes ao funcionamento de tais sistemas serão abordados tendo como bases principais os trabalhos de Coelho de Souza (2002), Ferreira (2003) e Lopes (2014). A língua Parkatêjê possuí terminologias específicas para parentes consanguíneos, afins e parentes já falecidos que são fortemente influenciadas pelas regras de nominação. De acordo com o sistema de nominação do referido povo, ao se receber um nome, o nominado recebe também virtualmente todos os relacionamentos de seu nominador, o que incluí receber seus parentes consanguíneos ou por afinidade, bem como suas relações cerimoniais e de amizade formal. Outra questão interessante é que no ato da nominação, o nominador escolhe uma característica de seu próprio comportamento com o qual chamará o seu nominado. Os nomes resultantes não se reduzem à simples soma de itens lexicais, uma vez que apresentam um significado distinto daquele de seus itens constituintes, de modo a expressar um conceito novo. A partir do entendimento das relações de parentesco e onomásticas do povo Parkatêjê, serão apresentados alguns aspectos morfossintáticos observados na composição dos termos de parentesco em questão e em nomes próprios da língua Parkatêjê. A metodologia utilizada para feitura deste trabalho consistiu em pesquisa bibliográfica de materiais a respeito de línguas indígenas, linguística e antropologia, além de pesquisa etnográfica com coleta de dados realizada na comunidade da língua em estudo. A presente pesquisa conta com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

PALAVRAS-CHAVE: Parentesco. Onomástica. Parkatêjê.

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LÍNGUA E IDENTIDADE INDÍGENAS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: AUSÊNCIA E APAGAMENTO

Osmando Jesus Brasileiro (UniRitter /GEA)

 

Quais imagens, ideologias, conceitos e conteúdos veiculam nos livros didáticos sobre um determinado tema? Quais parâmetros são utilizados para a escolha de temas e tipos de abordagens? Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) surgiram na década de 1990 com o objetivo de tentar definir tais critérios e parâmetros, contudo, a sociedade muda e com ela as opiniões e as formas de existência daqueles que a constituem também mudam. As lutas sociais e a definição das identidades para inserção social são uma das mais importantes ferramentas de discussão dessa conjuntura. Lutas que deram origem a leis como, Lei 11.645/2008, que obriga a inclusão do estudo da história e cultura afrodescendentes e indígenas nos currículos escolares. Dessa forma, se fizermos uma análise rápida e superficial dos livros didáticos notaremos que há poucas referências aos povos indígenas e sua linguagem. Grande parte da população indígena brasileira concentra-se na Região Norte, havendo no Amapá, uma concentração considerável da porcentagem total desses povos. Durante pesquisa de mestrado, pudemos constatar uma intenção deliberada, por meio da ausência, de apagamento da identidade e língua indígenas na cultura e história brasileiras. Parte dessa tentativa, se deve ao fato de que os não-indígenas utilizam tais subterfúgios para se apropriar das terras indígenas, e das riquezas presentes nela, que originalmente pertencem a esses povos; outra parte, se deve ao fato da imposição cultural não-indígena para consolidar o processo de dominação cultural e, por conseguinte, apagar esses povos e sua cultura da história da sociedade convencional. Diante disso, objetiva-se nesta comunicação, evidenciar momentos de ausências e de apagamentos da história e da cultura dos povos indígenas nos instrumentos de educação oficial, distribuídos gratuitamente em todas as escolas brasileiras. Nossa metodologia é o mapeamento de referências ao indígena na coletânea de livros pesquisados, A aventura da linguagem, (TRAVAGLIA ET ALII, 2009) e sua análise por um viés crítico dos teóricos da identidade como Hall (2004; 2006) e Bauman (2005), dentre outros que foram de interesse de nossa pesquisa em nível stricto sensu.

Palavras-chave: Língua e identidade indígenas. Livro didático de língua portuguesa. Apagamentos.

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Língua, Cultura e Sociedade Guató.

Profa. Dra. Natalina Sierra Assêncio Costa (UEMS/Campo Grande)

Patricia Damasceno Fernandes (UEMS/Campo Grande)

Na região, quase fronteira com a Bolívia, encontra-se a comunidade indígena denominada Guató, comunidade que será destacada nessa pesquisa. Alguns índios Guató moram na aldeia Uberaba que se localiza em uma ilha fluvial, no Canal D. Pedro II: a Ilha Ínsua e nela, está localizado o II Batalhão de Fronteira do Exército Brasileiro, conhecida como Bela Vista; outros, na cidade de Corumbá-MS. Em se tratando da língua Guató, esta foi documentada pela primeira vez por Castelnau (1851), fazendo parte do tronco linguístico Macro-Jê. Atualmente, são poucos os seus falantes, tendo em vista que a maioria dos falantes da comunidade, em destaque, fala só o português. Diante disso, vimos a necessidade de se fazer um estudo para se verificar a influência da língua portuguesa na fala dessa comunidade. A urgência em proceder ao estudo está no fato de a língua de origem–o Guató-não ter relação imediata, com qualquer outra língua ou famílias linguísticas conhecidas. O objetivo geral da pesquisa foi a investigação, o documentário e dentro da proposta, um estudo que revelasse, por meio de depoimentos de vida e de uma pesquisa sociocultural e histórica, o modo como o grupo étnico Guató enxerga o mundo. Já os objetivos específicos, procuraremos: investigar o universo lexical da língua portuguesa falada por esses índios; saber a concepção que os informantes têm sobre os vocábulos “Terra” e “Rio” unidades lexemáticas que representam o campo semântico e cultural do grupo. Para realizarmos esta pesquisa, buscamos primeiramente, uma fundamentação teórica, relativa à sociolinguística da linha laboviana nos seus conceitos qualitativos de análise de dados. Os resultados quantitativos só surgirão para confirmarem e explicarem os dados qualitativos. A relação entre o universo sociocultural deste grupo étnico e a sua representação fez-nos levantar algumas hipóteses, às quais procuramos verificar ao longo da pesquisa: a) A perda do referencial linguístico de um povo deve-se ao fato não dele ter se isolado, mas sim, de ter mantido contato constante com falantes de outras línguas. b) A contribuição para as pesquisas sociolinguísticas do português falado em comunidades brasileiras tradicionais, particularmente, em comunidades indígenas. O estudo permitiu compreender que a recorrência das estruturas variantes, muito mais do que as invariantes, relevam padrões de regularidade que, de tão sistemáticos, não podem ser devidos ao acaso. Cada palavra se associa a outras, na base de suas significações correlatas, dentro da cultura indígena em questão.

Palavras-chave: Português falado. Comunidade indígena. Variação linguística.