Teoria e Análise Linguística II

Entre regras e restrições: a estrutura silábica do Palikur

Elissandra Barros (UNIFAP/UFRJ)

O povo Palikur dividi-se entre a T.I. Uaçá, localizada no município de Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa; bairros na cidade de Saint Georges de l’Oyapock e vilas ao redor da capital guianense, Caiena. Ao todo, o povo é constituído por aproximadamente 2000 indivíduos, a maior parte vivendo no lado brasileiro, onde foram coletados os dados para esta pesquisa. A língua materna dos Palikur é o palikur  ou parikwaki, pertencente a família Arawak. Há poucos estudos descritivos sobre tal língua e nosso objetivo nessa apresentação é descrever seu padrão silábico. A sílaba, tida como a mínima unidade hierarquicamente organizada (SPENCER, 1996) é constituída por um ataque(onset); e Rima, cujo núcleo é sempre uma vogal e pode ser seguido pela posição de Coda. Assim, sílabas CV são formadas por ataque(onset) e rima simples; enquanto sílabas CVC possuem rima complexa, constituída por dois elementos: núcleo e coda. No caso do Palikur a identificação e análise dos constituintes que podem ocupar o núcleo silábico é fundamental para a compreensão dos padrões silábicos e também tem implicações diretas quanto a posição do acento na língua. A explicação dos padrões silábicos será realizada através da identificação de regras e restrições, de acordo com os princípios da Teoria da Otimalidade (PRINCE & SMOLENSKY, 1993; McCARTHY & PRINCE, 1993), segundo a qual as línguas são formadas por uma infinidade de restrições hierarquicamente organizadas e o que diferencia uma língua da outra é o  ranqueamento de tais restrições. Assim, após  descrição dos padrões silábicos do Palikur explicaremos as  regras e restrições para a escolha de um ou outro padrão e também indicaremos a importância de determinados padrões silábicos para a atribuição do acento em palikur.

Palavras-chave: Fonologia – Otimalidade – Palikur

Referências:

 McCarthy, J; Prince, A. Prosodic Morphology I: constraint interaction and satisfaction. Ms. University of Massachusetts, Amherst, and Rutgers University, New Brunswick, NJ, 1993.

 PRINCE, A.; SMOLENSKY, P. Optimality theory: constraint interaction in generative grammar. Rutgers University, 1993.

 Spencer, A.  Phonology. Oxford: Blackwell, 1996.

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A morfossintaxe Sanapaná e sua relação com o sistema vocálico

Antonio Almir Silva Gomes (NELI-UNIFAP)

 Mostro que o sistema vocálico da língua Sanapaná, composto pelas vogais /e/, /o/ e /a/, apresenta uma estreita relação com a morfossintaxe da mesma língua (cf. GOMES, 2013). Sanapaná, juntamente com as línguas angaité, guaná, enlhet, toba-maskoy e enxet, constitui a família linguística Maskoy (cf. UNRUH; KALISH, 2003). Este conjunto de línguas é falado exclusivamente por populações indígenas que vivem no Chaco Paraguaio, mais precisamente no “Departamento de Presidente Hayes”. Quando observadas em sua natureza fonética, as vogais Sanapaná apresentam o seguinte comportamento: /e/ ~ [ɛ] ~ [i]; /o/ ~ [ɔ] ~ *[u], que gera processos assimétricos de alofonia. O objetivo principal da apresentação é, no entanto, mostrar a relação que as vogais estabelecem com categorias gramaticais de gênero, número e pessoa. Sobre tal relação, mostro que {e-}, afixada ao sintagma, tem função morfossintática de subespecificação para funções phi com o argumento com o qual estabelece concordância. Por sua vez, {o-} relaciona-se à função de número no sintagma e, finalmente, {a-} exerce função dêitica. Assumo, portanto, que as três vogais da língua Sanapaná desempenham funções morfossintáticas de concordância no sintagma.

 Palavras chave: Vogais. Concordância. Morfossintaxe.

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Título da comunicação:
A estrutura argumental de verbos psicológicos em Kadiwéu.

Ticiana Andrade de Sena (UNICAMP)

A comunicação aqui proposta versará sobre as ocorrências do morfema verbal d:- na língua Kadiwéu, língua indígena brasileira que faz parte da família linguística Guaikurú. Morfemas tipologicamente similares a estes têm sido chamados de relacionais por outros estudos brasileiros em línguas indígenas. O morfema verbal d:- do Kadiwéu foi pesquisado por Sandalo (2009), que propõe que, em certos casos, se trata de um morfema inverso. Mais especificamente, quando o objeto é superior ao sujeito, de acordo com o padrão de hierarquia de pessoa dessa língua (2 > 1 > 3), um sistema de voz inversa é desencadeado e esse morfema se faz presente no verbo. Contudo, foi constatada, em narrativas Kadiwéu, a presença do mesmo morfema em situações na quais ele não estava marcando a voz inversa. Embora pretenda-se iniciar retomando o estudo desse morfema quando ele é um marcador de voz inversa realizado por Sandalo (2009), o trabalho aqui proposto se centrará num estudo referente aos casos em que o morfema d:- aparece no verbo, mas com uma função diferente da de marcador de voz inversa. Os casos encontrados até o momento que apresentam essa situação inesperada possuem verbos que pertencem à classe dos verbos psicológicos. Os dados utilizados nessa investigação são provenientes de três fontes: (1) dez narrativas Kadiwéu que fazem parte do banco de dados Kadiwéu, pertencente aos atuais Projetos de Pesquisa coordenados por Sandalo — (a)  Hierarquia de pessoa em línguas brasileiras: assimetrias e fronteiras (sob financiamento do CNPq), (b) Fronteiras e Assimetrias em Fonologia e Morfologia (sob financiamento da FAPESP); (2) os verbos registrados no dicionário Português – Inglês- Kadiwéu, em anexo na tese de Sandalo (1996); (3) a lista de verbos conjugados presente no dicionário Kadiwéu-Português / Português-Kadiwéu de Griffths (2002). O primeiro objetivo dessa comunicação é apresentar a classificação dos verbos psicológicos em Kadiwéu de acordo com as três classes de verbos psicológicos propostas por Belletti e Rizzi (1988) e apresentar as estruturas sintáticas possíveis em que esses verbos ocorrem. A partir dessas informações, busca-se refletir sobre a estrutura argumental desses casos. As reflexões acerca da estrutura argumental são elaboradas dentro do quadro da Morfologia Distribuída (Harley, 1995; Marantz, 1997). A reflexão feita dialoga bastante com a proposta de estrutura argumental de verbos psicológicos apresentada por Martha McGinnis (2000). (Bolsista CAPES)

 Palavras chave: Estrutura Argumental, Morfologia Distribuída, Kadiwéu.

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