Os dados coletados no relatório de monitoramento feito pela Abraji em 2021 com patrocínio da UNESCO, apontam 119 casos de violência de gênero contra jornalistas em 2021.
Nesta terça-feira, 8, no dia que se comemora o dia Internacional da Mulher, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em parceria com a UNESCO, lançou um relatório de monitoramento sobre a violência de gênero contra jornalistas, que inclui os ataques envolvendo identidade de gênero, sexualidade, orientação sexual, aparência e estereótipos sexistas, bem como episódios de agressão contra mulheres comunicadoras – cis ou trans – de forma geral.
O relatório inédito foi realizado ao longo de 2021, onde 89 jornalistas e meios de comunicação foram alvos de 119 ataques de gênero relacionados à profissão, dos quais mulheres jornalistas (cis e trans) representam 91,3% das vítimas, resultando em quase 10 casos de agressões, ofensas, ameaças e intimidações por mês. O monitoramento é a extensão de um trabalho da Abraji focado em violações da liberdade de imprensa, feito em parceria com a rede Voces del Sur, e conta com o apoio de Instituto Patrícia Galvão, Mulheres Jornalistas, Fenaj, Gênero e Número, CPJ e Repórteres sem Fronteiras.
“Gráfico contendo porcentagem por região de agressões contra jornalistas em 2021”. Foto/Imagem: Abraji
O relatório “Violência de gênero contra jornalistas” também aponta que durante 2021 as profissionais da imprensa e veículos de comunicação foram alvos de 45 ataques direcionados, utilizando gênero, sexualidade ou orientação sexual como argumentos para a agressão direcionada. Os alvos principais: a moral e reputação de jornalistas mulheres (32 casos) e ataques homofóbicos (8) e transfóbicos (1). As agressões que utilizavam como narrativa “Discursos estigmatizantes” com o intuito de hostilizar e descredibilizar jornalistas representam 75% dos episódios identificados pela Abraji.
Outro dado revela que 71,4% dos insultos tiveram origem ou foram repercutidos em ambientes virtuais, como a rede social Twitter, utilizada para perseguir, ofender e constranger comunicadores(as) no cotidiano de seu trabalho. Por isso, 71,4% dos episódios de agressão se originaram ou tiveram alguma repercussão na Internet, onde os principais agressores foram identificados como homens, correspondendo assim a 95% dos abusos praticados contra as mulheres da comunicação, dentro e fora da internet. As autoridades de Estado, como vereadores, deputados, senadores e o próprio presidente da República, também estão entre os principais agressores. Essa categoria é responsável por 36,1% do total de casos registrados. Considerando o gênero de agressores individuais – que não são classificados como grupos ou instituições –, homens estão envolvidos em 91,3% dos ataques. Além do Twitter, o Instagram, Facebook, YouTube e WhatsApp também foram registrados como plataformas em que as agressões realizadas diretamente contra mulheres jornalistas possuem dados semelhantes.
“mapa de monitoramento de ataques contra jornalistas mulheres em 2021”. Foto/Imagem: Abraji
Em 2018, um outro levantamento da Abraji registrou mais de 150 casos de agressão contra jornalistas, dessa vez, em contexto político-eleitoral, sendo 87 no ambiente virtual e 72 ataques físicos. Na internet, mulheres foram alvo de 56,3% dos casos registrados pelo levantamento. O que se vê é um aumento considerável de ataques entre 2018 e 2021. A Abraji monitora ataques a jornalistas no Brasil desde 2013 e alerta para o crescimento desses abusos ao longo dos anos. Entre 2020 e 2021, a associação registrou um aumento de 24,3% nos alertas de violações à liberdade de imprensa.
A plataforma on line do projeto também conta com um levantamento de dados que mostra que em torno de 4,2% dos casos de agressões de gênero contra jornalistas foram registrados na região norte do Brasil. A região Sudeste lidera o número de ocorrências, com 66,4% dos ataques, seguida por Nordeste (12,6%) e Centro-Oeste (11,7%). Os dados revelam ainda dois casos de violência física contra mulheres jornalistas e dois ataques online motivados por cobertura jornalística relacionada a gênero.
O Resultado deste projeto da Abraji Violência de gênero contra jornalistas, com o relatório “Violência de Gênero contra Jornalistas: dados sobre os ataques com viés de gênero e casos que vitimaram mulheres no Brasil em 2021” pode ser conferido clicando aqui. O documento foi produzido com financiamento do Global Media Defence Fund, da UNESCO, e conta com versões em inglês e em espanhol, acessíveis ao público de forma gratuita.
Colaboração de texto: Izabele Pereira (Bolsista de Extensão do Escritório Modelo/Rádio e TV UNIFAP, 2022)
Revisão: Marcela Souza (Bolsista de Extensão do Escritório Modelo/Rádio e TV UNIFAP, 2022)
ATENÇÃO – As informações, as fotos, imagens e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: Escritório Modelo/Rádio e TV UNIFAP, 2021.