Educação Superior Comentada – As perspectivas de atuação da UNE

AS PERSPECTIVAS DE ATUAÇÃO DA UNE 

Inicialmente, registro que “segurei” a coluna dessa semana até o último momento possível, na expectativa de poder abordar as novidades para a oferta do FIES no segundo semestre de 2015, pois circulava a informação de que, no máximo até o último dia 17 de junho, as novas regras estariam definidas e devidamente publicadas, o que, como é sabido, não aconteceu.

Efetivamente, foi uma semana de pouca movimentação na área educacional, com poucas novidades e a manutenção da estagnação das medidas para a efetivação da Pátria Educadora.

Nesse contexto de aparente imobilidade, um tema que me chamou a atenção e que, por isso, compartilho nessas linhas, foi a entrevista concedida pela nova presidente da União Nacional dos Estudantes – UNE – à Folha de São Paulo.

Evidentemente, esta coluna não é o foro adequado para debater questões ideológicas, porquanto nosso foco é a educação superior e os aspectos ligados a ela.

Nesse contexto, a manifestação da nova presidente da UNE demonstra, ao menos nesse primeiro momento, uma ausência de preocupação com questões fulcrais da educação superior, porquanto a questão da oferta de educação de qualidade não é mencionada hora nenhuma.

É certo que, recentemente empossada no cargo, a estudante terá, ainda, bastante tempo para trazer à discussão temais mais profundos e essenciais para os alunos das instituições de ensino superior do Brasil.

Contudo, sua fala inicial deixa evidente o que há muito tempo se vem observando na atuação da UNE, que é justamente sua postura pouco ligada à efetiva representação do plural universo dos estudantes da educação superior e a adoção de pautas ligadas a determinados grupos de seus integrantes.

Nesse sentido, ao afirmar que, em sua gestão, a UNE não vai “ficar agradecendo o resto da vida por um direito” e pelas conquistas recentes, a nova presidente registra “querer mais”.

A primeira observação que gostaria de fazer é que direitos não devem ser objeto de agradecimento. Direitos são conquistados e, depois da conquista, devem ser exercidos.

No trecho inicial da entrevista, todavia, o que mais me chamou a atenção foi a definição do que seria o “querer mais” no entendimento da entrevistada, motivo por que peço permissão para transcrever a resposta à indicação acerca do que seria esse “mais”:

Passe livre, por exemplo. Bandejão em universidades privadas…” 

Verificamos, pois, que as preocupações prementes da nova gestão da UNE são a obtenção de passe livre e a imposição de instalação de bandejão nas universidades privadas.

A questão do passe livre poderia até ser enquadrada como aspecto das políticas públicas de acesso e inclusão educacional, porquanto seria uma forma de o Estado auxiliar os estudantes no exercício de seu direito de ir e vir, desde, é claro, que estritamente ligado ao deslocamento necessário ao cumprimento de suas atividades acadêmicas.

Não se justificaria, por exemplo, o passe livre em finais de semana para os estudantes irem a baladas e festinhas, com lastro única e exclusivamente em sua condição de alunos.

A segunda proposta integrante do “querer mais”, traduzida pela intenção de impor às instituições de ensino superior privadas a obrigação de instalar bandejões é descabida, a partir do momento em que imporá novos custos e, com isso, a inafastável necessidade de revisão dos valores das anualidades e semestralidades.

Mostra, ainda, um claro desconhecimento da realidades das instituições superiores privadas e do perfil de seus estudantes, que não se assemelham aos alunos das universidades públicas, especialmente no que pertine à disponibilidade de tempo que dedicam à convivência no ambiente universitário.

Mas o fato que me causou mais estranheza foi a completa ausência de qualquer menção à luta por melhorias concretas na qualidade das atividades educacionais na educação superior, seja ela pública ou privada.

Evidencia, assim, uma visão ainda restrita do processo educacional de forma ampla, com foco em pequenas questões que, como dito anteriormente, atendem aos interesses de alguns grupos de estudantes das instituições de ensino superior, mas que, certamente, não são temas de interesse universal do segmento.

Fonte:
www.abmes.org.br