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Desafios da aula remota: estudantes desistem da faculdade em meio à pandemia

 

 

Alunos relatam dificuldades no modelo remoto. Falta de conexão com a internet e semestres reduzidos são principais reclamações

A limitação e os desafios das aulas remotas, foram apenas alguns dos problemas enfrentados, desde o início da pandemia de Covid-19, por quem precisou encarar a suspensão do ensino presencial. O contato pessoal e visual, tão importante na comunicação, abriu uma série de incertezas sobre a total emissão e recepção do conteúdo das aulas.

A reportagem, traz a história de 4 acadêmicos da Universidade Federal do Amapá (Unifap) que precisaram desistir – pelo menos por enquanto – do sonho de concluir a graduação. Eles relatam os impactados sofridos pelo início das aulas remotas em função da pandemia.

“Novo Normal”

Palavras como “novo normal” e “se reinventar” passaram a ser ditas com muita frequência, desde o início da pandemia. A busca é por conseguir ultrapassar os obstáculos e continuar desenvolvendo as atividades do dia a dia, apesar de todos os medos. 

Entretanto, no que diz respeito à educação, o impacto das aulas remotas foi muito intenso. Lidar com limitações que vão desde a adaptação à mudança do esquema escolar, ao não-acesso a equipamentos básicos para o estudo em casa, além de enfrentar a ansiedade e insegurança provocadas pela circunstância. Esses problemas impediram muitos alunos de acompanhar o ritmo da educação à distância.

É o caso da Luana de Souza Monteiro, de 21 anos. Ela cursava Artes Visuais na Unifap, desde 2019, e estava no 3º semestre da graduação. No início, a estudante ainda tentou seguir o ritmo, mas por vários motivos não se sentiu conectada com as aulas através da tela do celular.

Luana de Souza Monteiro, 21 anos (Arquivo Pessoal)

“Os motivos que me levaram a desistir foi a dificuldade de concentração e aprendizagem o qual já era um pouco difícil nas aulas presenciais, e nas aulas EAD parecem que subiu o nível de dificuldade, além de que, a pandemia mexeu com o psicológico da maioria dos alunos, os quais que tiveram que enfrentar o isolamento, perdas de pessoas próximas e até mesmo em questões dos sintomas da covid-19”, relatou.                                                            

O impacto dos semestres corridos 

Enquanto as instituições de ensino superior privadas se adaptaram às aulas presenciais para o modelo virtual, no fim de março de 2020, a maioria das universidades federais suspenderam as atividades. Foi assim por meses, até que os gestores das instituições públicas reconheceram que a pandemia seria mais longa do que o esperado.

Para o acadêmico de Enfermagem na Unifap, Allison Carlos Souza Barroso, de 23 anos, a corrida pelo tempo perdido, com semestres curtos e com pouco tempo para desenvolver as atividades curriculares, impactou negativamente a vida de professores e alunos.

Allison Carlos Souza Barroso, 23 anos – (Arquivo Pessoal)

“Em 2020, a gente não teve aula. No final de 2020 colocaram um semestre inteiro. Além da gente querer matar esse tempo perdido, a gente tá “matando” de uma forma errada, de uma forma “chutada” onde não estamos aprendendo tudo o que deveria, da forma que deveria”, desabafou.

Em março de 2021, a instituição decidiu continuar com as aulas remotas, que já eram realidade desde o final de 2020. Nessa nova fase, o corpo administrativo da Unifap se preparou para atuar no formato híbrido – modelo que intercala as modalidades presencial e online.

A recomendação do ensino híbrido foi estabelecida em Normativa publicada pelo Ministério da Educação (MEC). Mas segundo nota da instituição, só seria possível cumprir o calendário acadêmico após o recebimento de recursos federais que viabilizassem adaptações necessárias para a nova modalidade de ensino. Na prática, a maioria dos cursos não foi contemplada neste formato.

O calendário foi retomado com a oferta de dois semestres referentes a 2020 e um referente a 2021. Que ficaram distribuídos da seguinte forma:

  • 2020.1: 12 de abril a 15 de junho (73 dias letivos)
  • 2020.2: 05 de julho a 28 de setembro (72 dias letivos)
  • 2021.1: 18 de outubro de 2021 a 15 de fevereiro de 2022 (90 dias letivos)

De acordo com o último calendário acadêmico, a instituição deve fechar o semestre atual referente a 2021.1 neste mês de fevereiro e iniciar o próximo a partir do dia 22 de março. A UNIFAP ainda não se posicionou sobre como serão as aulas neste próximo ciclo. A Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROGAD) da universidade ainda não publicou o novo calendário e orientações.

Unifap ainda não se posicionou sobre formato das aulas para próximo semestre. (CRÉDITO: Mauro Araújo)

Adaptação ao ensino virtual

Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a dificultosa adaptação ao ensino virtual é em função principalmente da falta de acesso à internet e computadores. 

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente à 2018, apontou que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Ao todo, cerca de 46 milhões de brasileiros não acessam a rede.

No Amapá existem agravantes. A instabilidade de conexão com a internet e as quedas de energia fazem parte da realidade dos estudantes. Em novembro de 2020, por exemplo, bem no meio da pandemia e das aulas remotas, aconteceu um dos maiores blecautes do país, deixando quase 800 mil amapaenses sem energia, por 22 dias, dos quais quatro deles, na escuridão total. 

Apagão no Amapá, 2020. (Arquivo Pessoal)

Janaina Pelaes Ferreira era acadêmica do curso de Jornalismo na Unifap e chegou a estagiar na Assessoria de Comunicação da instituição, mas se viu sem saída e teve que trancar o curso.

Janaina Pelaes Ferreira, estudante de Jornalismo – Arquivo Pessoal.

“Eu já tinha tido experiência com ensino on-line, tinha feito um curso. A diferença é que no EAD as aulas são ao vivo e eu nunca tinha tido essa experiência, de assistir às aulas ao vivo. E um dos grandes problemas que impedem as aulas serem eficazes é a falha na internet” relata a estudante.

Cassiano Brito, de 24 anos, também aluno do curso de Jornalismo, assim como a Janaína, acabou desistindo das aulas remotas. Segundo o estudante, o Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa) não abriu o período de trancamento da matrícula e ele desistiu das disciplinas, ocasionando reprovação. Um dos principais motivos também foi problema de conexão com a internet.

Cassiano Brito, 24 anos. (Arquivo Pessoal)

“E como nós cursamos cinco, seis disciplinas de uma vez,  tínhamos horários muito em cima um do outro, todo dia tinha uma aula. Nem sempre a conexão na cidade era boa, a qualidade não era boa. Outra coisa é que essas disciplinas exigiam trabalhos, os trabalhos exigiam grupos no ‘WhatsApp’”, detalhou.

Mas, para além das ferramentas técnicas, a adesão ao ensino remoto também passou por transformações significativas, ligadas a novas concepções e conceitos de inclusão curricular.

Ao falar sobre currículo e carga horária, também surge o debate em relação à capacitação dos professores e a criação de projetos pedagógicos voltados ao ensino à distância e o uso das ferramentas. Esse desafio para as instituições de ensino, pode ajudar alunos como a Luana, o Allison, a Janaína e o Cassiano, a retornarem para as aulas com mais confiança num ensino de qualidade.

Colaboração de texto: Camila Bastos, Marcely Cristian de Sena Barroso,  Mauro Araújo da Costa,  Núbia Pacheco e Jamily Canuto (Alunos da disciplina Redação e Reportagem 2, sob orientação do Professor Paulo Giraldi para o Projeto de Extensão do Escritório Modelo/Rádio e TV UNIFAP, 2022)


ATENÇÃO – As informações, as fotos, imagens e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: Escritório Modelo/Rádio e TV UNIFAP, 2021.

 

 

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