Nota de pesar sobre o falecimento da liderança Domingos Santa Rosa

O dia 22 de abril de 1500 é reconhecido por marcar nas páginas da história o processo de invasão do Brasil. Tal data inaugura os fatídicos encontros e desencontros entre povos originários e europeus. Passados 520 anos, o dia 22 de abril de 2020 será lembrado pela despedida da liderança Galibi-Marworno Domingos Santa Rosa. Dia triste para os Povos Indígenas do Oiapoque, para o Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, para a FUNAI-Oiapoque e para todos aqueles que tiveram o prazer de conviver com Domingos Santa Rosa, esposo da professora Edilena dos Santos e pai de Fábio, Camilo e Gabriel. Domingos atuou de forma direta no processo de reconhecimento dos Territórios Indígenas de Oiapoque. Sua atuação ocorreu de várias formas: como indígena Galibi-Marworno, integrando o Movimento indígena; e como funcionário da Funai, atuando diretamente na logística e aspectos físicos da demarcação. Domingos, sabia da importância de suas funções burocráticas no indigenismo, seu tato político junto aos não indígenas – entre eles os técnicos/topógrafos – foi salutar para o bom andamento da demarcação. Dimãxe – como era chamado por parte de seus colegas indígenas durante a ações de demarcação – tinha muito claro em suas memórias as ações indígenas em prol da demarcação que ocorreram no início da década de 1980, entre elas a passagem da BR–156 pelo Território Uaçá. Posteriormente, atuou diretamente nas discussões relativas ao asfaltamento da BR na área indígena. Domingos era filho de um funcionário do SPI e relembrava os feitos de seu pai em terras Oiapoquenses, junto às políticas indigenistas. Para além de sua trajetória política, Domingos era o conselheiro, o sábio, o amigo. O kusuvwi quando passa leva o espírito das plantas, dos animais, dos peixes, dos pajés e das canoas velhas. Domingos não era pajé, mas temos certeza que há espaço para ele no kusuvwi e, lá dos céus, se juntará aos grandes mestres na tarefa de espalhar água no Uaçá e bençãos sobre a terra.

A imagem pode conter: 1 pessoa, sentado, óculos e área interna

Este post tem 4 comentários

  1. Álvaro Musolino

    Boa viagem Domingos.
    Lembranças dos idos de 1991 em uma pesquisa para mestrado sobre a área Uaça’ . Depois em 2002 já na Funai Oiapoque para doutorado sobre palikur na fronteira e na Guiana francesa. Muito me auxiliou. Boa viagem meu considerado indígena uaçaiano.

    1. Carina Almeida

      Bom dia sr. Álvaro Musolino. Infelizmente os povos indígenas de Oiapoque perderam uma de suas importantes lideranças. Também lastimamos seu falecimento. Agradecemos o contato.

  2. Alvaro

    Dimanche contava histórias interessantes. Para mim, contou só uma sobre o tempo da demarcação da área Uaça l l. Mas acho que ñ cabe aqui…

  3. álvaro musolino

    Contou-me o Domingos certa ocasião em janeiro de 1991, no Manga, quando fazia eu Survey antropológico no Uaçá, que certa vez ao participar de um mutirão de demarcação topográfica, armou sua rede embaixo de uma árvore de flores brancas.
    “Quando acordei estava coberto de flores. Pensei…não é possível, acho que morri, pois estou no paraíso…”

Deixe um comentário para Carina Almeida Cancelar resposta