Marcando a semana de luta dos povos indígenas, no dia 18 de abril de 2024 o PPGED realizou a mesa de debate “Povos indígenas na pós-graduação: de objetos a protagonistas do conhecimento”. Estiveram na mesa os estudantes indígenas do PPGED Fabrício Karipuna, Nara Aniká e Clebson dos Santos, todos pertencentes ao povo Karipuna do Amapá.
Nas explanações os debatedores abordaram três eixos: a cultura e mobilização dos povos indígenas de Oiapoque; educação escolar e não escolar do povo Karipuna; e enfrentamentos de estudantes indígenas para acessar e permanecer na universidade pública.
Fabrício Karipuna demarcou em sua fala que “todos os direitos atuais dos povos indígenas é fruto de intensa mobilização dos antepassados, e é necessário que essa geração de indígenas atual continue firme no propósito de preservar o território, defender sua cultura e fazer com que os não indígenas reconheçam a importância que os povos tradicionais têm. Para isso, estar na universidade é muito importante, pois é um espaço que pode ajudar a fundamentar o processo de interculturalidade”.
Nara Aniká demarcou que a educação indígena é um processo que envolve os aprendizados para a vida. “Na aldeia os ensinamentos para as crianças são transmitidos na família, na plantação das roças, no convívio com os idosos, na transmissão de narrativas orais. Quando a escola chegou na aldeia, proibiu de falar nossa língua, de utilizar nosso acervo cultural. Mas a escola na aldeia hoje é ressignificada por nós, passamos a entender que a educação pode ser nossa aliada, se for construída a partir dos anseios da comunidade”.
Já Clebson dos Santos destacou os desafios que estudantes indígenas enfrentam para acessar e permanecer no ambiente universitário, e colocou alguns relatos de sua própria experiência nesse processo. “Para estar aqui na pós-graduação tive que sair da minha aldeia sem nenhuma condição financeira, contei com muita ajuda de amigos e conhecidos para morar e me alimentar nos quatro primeiros meses de minha vinda para Macapá. Chorei muitas vezes, pensei em voltar para minha aldeia, porque lá eu nunca passei fome. Mas com a ajuda de muitas pessoas eu tive coragem para permanecer. E vou até o fim, porque na aldeia quem sai para estudar é um grande orgulho para a comunidade. Minha comunidade está muito orgulhosa de mim. E vou voltar mestre em educação para contribuir com meu povo”.
O PPGED, desde 2017, quando foi fundado, reserva vagas em seus processos seletivos para indígenas, pessoas trans, quilombolas e pessoas com deficiências. E a partir do processo seletivo de 2023 passou também a fazer um processo seletivo diferenciado para esses grupos de pessoas. Atualmente o programa tem 5 estudantes indígenas, e já estão aprovados para ingressarem em 2024 mais 2 estudantes desse segmento étnico.