OBSERVATÓRIO POPULAR DO MAR INSTALA EM COMUNIDADES COSTEIRAS ESTAÇÕES PARA MONITORAR MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Comunidades coletam dados para pesquisadores por meio de aplicativo para análises científicas na busca por soluções aos impactos ambientais.

Por Mariana Braga.

Entre agosto e outubro de 2023, o Observatório Popular do Mar – OMARA esteve nas regiões de Bailique, Chaves e Beira Amazonas para coletar informações e realizar oficinas junto às comunidades para discutir com elas os impactos das mudanças climáticas nas regiões. Com esta ação, o OMARA criou uma rede comunitária com os moradores e avança para a segunda fase do projeto, que teve inicio no dia 07 de janeiro. Foi realizado o treinamento de voluntários interessados em participar do monitoramento e a implantação das estações fixas.

Para desenvolver essa etapa, o projeto conta com apoio de voluntários das próprias comunidades, os quais atuarão na coleta de dados transmitidos para o OMARA por meio de aplicativo. Posteriormente, serão organizados e validados. O objetivo principal é planejar possíveis soluções para esses problemas ambientais.

Treinamento na comunidade do Igarapé do Meio –  Foto: Lana Nunes

As comunidades das regiões do Bailique e Beira Amazonas foram as primeiras a receberem os treinamentos das temáticas que o projeto atua, na ocasião, os moradores aprenderam a utilizar os equipamentos que serão utilizados nas coletas.

Daiana Machado é moradora da comunidade de Arraiol no Bailique, a jovem conta que estava ansiosa para participar do treinamento, pois garante que pode ajudar a solucionar os problemas da sua comunidade. “Minhas expectativas são grandes, principalmente porque é algo que ajuda a conhecer o meu lugar e observar as mudanças, às vezes a gente deixa passar despercebido. E agora, a gente vai conseguir mensurar quão realmente cresce ou diminui as terras, porque é algo que atrapalha no nosso dia a dia”, relata.

Treinamento de erosão e acresção – Foto: Valdenira Santos

Aqueles que optaram por ser voluntários na temática de inundação passaram por treinamento no uso da régua linimétrica – ferramenta utilizada para medir as variações nos níveis d’água, levando em consideração a situação do tempo, maré e lua. Além disso, aprenderam a preencher o caderno de coleta, que possui o calendário lunar e os dias das passagens de satélite, detalhe muito importante para ter um  monitoramento mais eficaz.

Demonstração do uso da régua linimétrica – Foto: Mariana Braga

A intrusão salina conta como método de coleta o refratômetro, um equipamento capaz de identificar a concentração de salinidade na água. Segundo as literaturas científicas, isso é identificado por meio do índice de refração do refratômetro. Os voluntários da temática receberam um refratômetro, água destilada, piceta e um caderno de anotações para organizar os dados.

Uso do refratômetro – Foto: Nataliel Almeida

A temática de intrusão salina também agrega ao treinamento os sólidos em suspensão, método que consegue medir o nível de sedimentos encontrado na água. É recomendado que o voluntário colete a água da sua comunidade e deixe pelo menos 12 horas descansando no cone, ao final eles conseguem identificar se existe algum sedimento no fundo. 

Demonstração do uso do cone – Foto: Mariana Braga

Dinaldo Miranda, pesquisador e professor, foi responsável por ministrar o treinamento de sólidos em suspensão. O pesquisador destaca  a importância  da participação ativa da comunidade, pois esses moradores sabem o que acontece dentro da sua comunidades diariamente, e ainda conta como esse monitoramento irá ajudar futuramente. “A partir do momento que a gente consegue saber uma média de sedimentos na água, conseguimos também ter mais segurança em recomendar quanto de produtos de limpeza são necessários para água ficar própria para uso”, reitera. 

Werison Costa foi um dos voluntários da temática, o estudante conta que aprendeu a como utilizar o cone, e agora se sente preparado. “ A gente lava o balde três vezes, e depois coloca no cone até a marcação. Se a pessoa colocar 23h da noite, ele tem que ver só 11h da manhã do outro dia, depois ele mede quanto tem de sujeira no fundo”, explica.

Voluntário Werison Costa – Foto: Mariana Braga

Os voluntários de sólidos em suspensão receberam um kit para fazer esse monitoramento, contendo um disco de secchi, cone, caderno para anotações das medidas, balde e água destilada. A temática de manguezais  utiliza a estratégia de oportunidade e engajamento da sociedade, as informações serão coletadas com o auxilio de um aplicativo. A pesquisadora Francinete Facundes é especialista em mangues, e explica como será o passo a passo do aplicativo. “Com a câmera do celular o usuário fará dois registros fotográficos. O primeiro registro tem que ser de uma imagem da paisagem, que permita identificar além das espécie de mangue, mas também as espécies vizinhas associadas ao manguezal.

O segundo registro é com foco na espécie de mangue avistada, que com a base de informações disponíveis no aplicativo, permitirá uma identificação preliminar da espécie encontrada”, afirma. Essas espécies de mangues poderão ser localizadas, pois o aplicativo permite a localização geográfica, e então as informações serão repassadas para a base de dados do OMARA. A temática de erosão e acreção também utilizará o aplicativo como método de coleta, no entanto, com uma abordagem diferente. O Observatório Popular do Mar utiliza para essa temática o método Coast Snap, que funciona por meio de fotos tiradas do mesmo lugar, para ter  mais precisão nas informações das imagens é instalado um suporte de apoio fixo para celular, com isso as imagens podem ser usadas para compreender o processo de mudança que ocorre no local em que a estação é implantada. Os suportes foram instalados com ajuda de moradores e voluntários em pontos estratégicos capazes de focar em processos de mudanças.

Marcação de localização no GPS – Foto: Valdenira Santos

Processo de instalação – Foto: Mariana Braga

Valdenira Santos,  atual  coordenadora do projeto, explica como será realizado o acompanhamento desses voluntários na nova etapa do OMARA. “Essa segunda fase é relacionada a implementação das estações de monitoramento, a partir do treinamento e do rastreio dos equipamentos será possível mapear os dados. O acompanhamento será por meio dos grupos de whatsapp com as comunidades e visitas periódicas realizadas pela equipe. O projeto precisa desse retorno, para ser algo mais próximo da comunidade”, afirma.

Pós instalação em Igarapé do Meio – Foto: Lana Nunes

A princípio, foram escolhidas nove comunidades para instalação das estações fixas de monitoramento, decididas a partir da localização, da manifestação popular em participar das atividades de observação e da representatividade dos fenômenos naturais nas imagens de satélites. O OMARA visitou em janeiro as comunidades do Bailique e Beira Amazonas, e planeja seguir para Chaves ainda no primeiro trimestre do ano. O objetivo é ir para o próximo passo: gerar resultados e dados suficientes para efetivação de políticas públicas adequadas para essas regiões.

O Observatório Popular do Mar é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é executado pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) e Governo do Amapá.

Comunidades visitadas pelo OMARA em janeiro de 2024: Igarapé do Meio, Limão do Curuá, Arraiol, Macedônia, Freguesia, Jangada, Bacaba e Nossa Senhora de Nazaré.